Realidade Virtual e Aumentada: Como Estas Tecnologias Afetam a Saúde Visual?
- carla pinto
- 17 de out. de 2024
- 3 min de leitura
As tecnologias de Realidade Virtual (VR) e Realidade Aumentada (AR) têm transformado diversas áreas, desde o entretenimento até a educação e a medicina. No entanto, com o seu uso crescente, surgem preocupações sobre os potenciais impactos na saúde visual, especialmente em jovens e utilizadores frequentes. Este artigo explora as implicações dessas inovações e fornece uma visão baseada em evidências sobre os possíveis riscos para os olhos.

O Que São Realidade Virtual e Aumentada?
A realidade virtual (VR) refere-se a ambientes simulados digitalmente, onde os utilizadores se imergem através de dispositivos como óculos ou capacetes. Já a realidade aumentada (AR) sobrepõe informações digitais ao mundo real, sendo utilizada em aplicações como jogos e até em cirurgias assistidas por computador. Ambas as tecnologias exigem uma interação intensa e prolongada com o sistema visual.
Efeitos a Curto Prazo do Uso de VR e AR nos Olhos
Estudos recentes indicam que o uso prolongado de VR e AR pode causar fadiga ocular, visão turva, e até tonturas. Esses sintomas são frequentemente referidos como "doença da realidade virtual" ou cibercinetose (Kennedy et al., 2010). A intensidade da fadiga ocular deve-se ao esforço constante de acomodação visual, em que os olhos são forçados a focar objetos a distâncias que podem não corresponder à realidade física.
Uma revisão de Koulieris et al. (2019) destaca que o uso frequente de dispositivos VR e AR pode induzir diplopia temporária (visão dupla) e astenopia (fadiga ocular), especialmente em indivíduos que já possuem problemas de visão não corrigidos.
Potenciais Riscos a Longo Prazo
Embora ainda não existam estudos de longo prazo suficientemente amplos, especialistas levantam preocupações sobre como o uso de realidade virtual pode afetar o desenvolvimento ocular de crianças e adolescentes. Durante os anos de crescimento, os olhos estão em constante desenvolvimento e uma exposição excessiva a ambientes digitais pode aumentar o risco de miopia.
Um estudo publicado na Ophthalmology sugere que o aumento do uso de dispositivos digitais em geral está associado ao crescimento global da miopia, especialmente em crianças (Morgan et al., 2018). Com as tecnologias VR e AR a introduzirem novos estímulos visuais complexos, o risco de progressão de miopia pode ser exacerbado.
Recomendações para Um Uso Seguro
A Associação Americana de Optometria recomenda que os utilizadores de dispositivos VR/AR sigam a regra 20-20-20: a cada 20 minutos, fazer uma pausa de 20 segundos e olhar para algo a 6 metros (20 pés) de distância. Essa técnica pode ajudar a aliviar a pressão sobre os olhos e prevenir a fadiga ocular.
Além disso, é aconselhável que crianças menores de 12 anos evitem o uso prolongado de dispositivos VR, pois os seus sistemas visuais ainda estão em desenvolvimento. Para utilizadores frequentes, recomenda-se a realização de exames oftalmológicos regulares para monitorizar possíveis alterações na visão.
Conclusão
Enquanto as tecnologias de realidade virtual e aumentada oferecem benefícios imensos, o seu impacto na saúde visual não deve ser ignorado. É essencial que utilizadores e profissionais de saúde estejam cientes dos potenciais riscos, especialmente para crianças e jovens. Investigações futuras devem continuar a explorar os efeitos de longo prazo, permitindo o desenvolvimento de diretrizes seguras para o uso dessas tecnologias.
Bibliografia:
Kennedy, R. S., Lane, N. E., Berbaum, K. S., & Lilienthal, M. G. (2010). Simulator Sickness Questionnaire: An Enhanced Method for Quantifying Simulator Sickness. International Journal of Aviation Psychology, 3(3), 203-220.
Koulieris, G. A., Bui, T. H., Banks, M. S., & Drettakis, G. (2019). Accommodation and comfort in virtual reality: Vergence–accommodation conflict and the effects of age and distance. ACM Transactions on Graphics, 38(4), 1-14.
Morgan, I. G., Ohno-Matsui, K., & Saw, S. M. (2018). Myopia. The Lancet, 379(9827), 1739-1748.